PORTA ARROMBADA
Mais do que nunca, o ditado popular que aponta providências só depois de se ter a porta arrombada se faz presente. As providências em curso para resolver o impasse de Mariana, que se propaga ao longo do Rio Doce chegando ao mar, são a face exposta deste comportamento. Há tempos, havia advertências sobre a barragem de Bento Rodrigues, mas elas entraram por um ouvido e saíram pelo outro, num claro descaso, típico de grupos poderosos que se consideram acima das legislações. O Governo mineiro constituiu uma força-tarefa para discutir o problema e avaliar consequências, mas, a despeito das intenções, ela chega a tempo para controlar ações futuras, mas atrasada para a tragédia já instalada.
Na edição de domingo, o matutino “O Globo” revelou que 16 barragens, espalhadas pelo país, colocam em risco cerca de 540 mil pessoas. São moradores de municípios próximos a tais depósitos de resíduos que vivem à mercê da própria sorte, embora haja a iminência de se romperem. Comparadas a elas, a de Mariana é apenas um lago. A advertência partiu também do Departamento Nacional de Produção Mineral, a quem cabe a responsabilidade de fiscalizá-las. A maioria se situa no Norte e no Nordeste do país, mas um acidente como o de Minas extrapolaria regiões, pois afetaria verdadeiros santuários ambientais nas bacias dos rios Amazonas, Paraguai e São Francisco.
A exploração de minério, uma das principais fontes de recursos da economia mineira, sempre passa por relações especiais entre governos e mineradoras. Não é de hoje que entidades ambientais advertem para os danos, mas suas observações, em face do volume de dinheiro, não são levadas em conta adequadamente, bastando ver as paisagens às margens da BR-040, que mudam de tempos em tempos. Como o minério é de uma safra só, as montanhas de Minas, a despeito do dito que não se aplainam, passam por mudanças. Não há inventário oficial de até quando a exploração continuará, mas, se nada for feito, mais do que as montanhas, outros ativos ambientais também estarão com os dias contados.