Quaresma da Misericórdia
Quando fazíamos nossa reflexão sobre o tema dessa coluna, o Papa Francisco fez sua catequese da Quarta-Feira de Cinzas sobre o mesmo tema. Sua reflexão é mais rica e tem mais autoridade do que tudo que pudéssemos fazer, por isso preferimos resumi-la.
“O Jubileu acontecia de 50 em 50 anos do povo de Israel. Se uma pessoa tivesse sido obrigada a vender a sua terra ou a sua casa, no Jubileu, recuperava a posse delas, e se alguém contraía dívidas que não pôde saldar e foi reduzido à escravidão, pondo-se ao serviço do credor, no Jubileu, podia voltar livre para a sua família e reaver todas as suas propriedades.
Quem empobrecia voltava a ter o necessário para viver, e quem enriquecia restituía ao pobre o que lhe apanhou. O objetivo era criar uma sociedade assente na igualdade e na solidariedade, onde a liberdade, a terra e o dinheiro voltassem a ser um bem para todos e não só para alguns, ‘como acontece agora’. Oitenta por cento das riquezas da humanidade estão nas mãos de menos de 20% das pessoas. Esse ano é um para converter-se para que o nosso coração se torne maior, mais generoso, mais filho de Deus, com mais amor. Mas lhes digo uma coisa: se o jubileu não chegar até ao bolso, não é um verdadeiro jubileu, entenderam? E isso não é o Papa que inventa: está na Bíblia.” Pela lei das primícias, a parte mais preciosa da colheita era compartilhada. Também hoje é importante compartilhar com quem não tem o resultado do trabalho, do salário, de tantas coisas que se possui e depois se desperdiça.
“E, pensando justamente nisso, a Sagrada Escritura exorta com insistência a responder generosamente aos pedidos de empréstimo, sem fazer cálculos mesquinhos e sem pretender juros impossíveis.” “Quantas famílias estão na rua, vítimas da agiotagem! Por favor, rezemos para que, neste Jubileu, o Senhor tire do coração de todos esses nossa vontade de ter sempre mais que a agiotagem provoca. Que se volte a ser generosos, grandes.” No desespero, afirmou Francisco, muitas pessoas acabam cometendo suicídio, porque não encontram uma mão estendida, somente a mão da cobrança. “A agiotagem é um pecado grave.”
O Jubileu tinha por função ajudar o povo a viver uma fraternidade concreta, feita de mútua ajuda. Podemos dizer que o jubileu bíblico era um “jubileu de misericórdia”.
A mensagem bíblica é muito clara, concluiu o Papa: abrir-se com coragem à partilha entre compatriotas, entre famílias, entre povos, entre continentes. “Contribuir para realizar uma terra sem pobres quer dizer construir sociedades sem discriminações, assentes na solidariedade que leva a partilhar aquilo que se possui numa divisão dos recursos fundada na fraternidade e na justiça.”