O ano em que vivemos (mais uma vez) a cultura
Um ano se vai, outro já vem, e a capacidade do ser humano de criar não termina. Seja em cinema, artes plásticas, teatro, música ou literatura, 2014 foi um ano de intensa atividade e produtividade. Mesmo sem ter chegado, 2015 já aparece pelas frestas do ano que torna relíquia para dizer que muito coisa vem por aí. Separar o joio do trigo é tarefa individual, visto que cada cabeça, como diz o ditado, é uma sentença.
Enquanto o ano novo não vem, a equipe da Tribuna relembra, nesta semana, até sábado, parte do que aconteceu em 2014 e busca antecipar 2015, tanto em nossa boa e velha Juiz de Fora quanto nos limites continentais de nosso Brasil e também ao redor do globo.
O futuro tão longe e tão perto
No cinema, 2015 vai seguir na mesma toada de 2014: com a dobradinha blockbuster/continuação. “Uma noite no museu 3”, com Ben Stiller, chega às telas em 1º de janeiro. Algumas sequências serão aguardadas pela comunidade nerd com avidez, caso de “Os Vingadores”, “Jogos Vorazes”, “Quarteto Fantástico” e, principalmente, o capítulo 7 de “Star Wars”. “Homem-Formiga” é a aposta da Marvel para ser o “Guardiões da Galáxia” da vez. “Os pinguins de Madagascar” e “Minions” são os spin-offs de “Madagascar” e “Meu malvado favorito”, respectivamente. Daniel Craig volta à série “007”, enquanto Tom Cruise tenta mais uma vez em “Missão impossível 5”.
Algumas franquias seguem sugando o tutano que resta dos originais, situação de “Velozes e furiosos 7” e a volta do “Exterminador do futuro”, fazendo companhia aos dinossauros de “Jurassic World”. Sem Mel Gibson, “Mad Max” está de volta, assim como o remake (necessário?) de “Poltergeist”. Seguindo a moda de levar livros para a tela grande, o erotismo baunilha de “Cinquenta tons de cinza” vai fazer a alegria de muita gente. E até mesmo videogames “Assassin’s Creed” e “Hitman” entram na festa.
Fora da lista de campeões de audiência, 2015 terá espaço para algumas das produções mais elogiadas de 2014 nos Estados Unidos, como “O jogo da imitação” e “Birdman”. O panorama brasileiro continua um desalento só, com as continuações de “Até que a sorte nos separe”, “Minha mãe é uma peça”, “Meu passado me condena” e “De pernas pro ar”, além dos “novos” “Vai que cola” e “Loucas para casar”.
Sem ter nada a ver com isso, Juiz de Fora continuará a ter sua produção local. Sem contar a produção independente, oito projetos foram aprovados pela Lei Murilo Mendes para 2015: “Véspera” (Ludimilla Alvarenga Fonseca), “Cortina de vidro” (Tairone de Azevedo Vale), “Daqui, de lá” (Francisco Otávio Nóra Franco), “Feira livre da Avenida Brasil: o patrimônio cultural às margens do Paraibuna (Daniela Maria Alves Pedrosa), “Chama que não se apaga” (Marcos Pimentel), “Jonathan – Um curta-metragem sobre a memória pessoal e sua ressignificação no presente” (Mariana Ferraz Musse), “Dores” (Paula Duarte Souza), “Vinil é arte – uma década de groove” (Diego Casanovas Felício) e “Barbante” (Daniel Brandi do Couto).
Bem-vindo ao passado recente
Nem tudo é blockbuster na sétima arte. O Festival Primeiro Plano teve seu encerramento ontem, em Juiz de Fora, mostrando a vitalidade da produção local, que teve 30 curtas-metragens em exibição na Mostra Competitiva Regional, incluindo realizadores de primeira viagem e veteranos. Foi no festival, ainda, que se pôde notar a validade do polo de produção criado em Cataguases, onde foi filmado “O menino do espelho”, de Guilherme Fiúza, exibido na cerimônia de abertura do Primeiro Plano.
Cinema, porém, não permite vida fácil a ninguém no país. A produção local, em parte, teve o auxílio da Lei Murilo Mendes, que facilitou a realização de projetos nas mais diversas áreas. Neste domingo, por exemplo, o CCBM vai receber a exibição dos primeiros videoclipes da Coletânea Audiovisual, incluindo artistas do punk (Holokausto Social), rap (MC Oldi) e blues (Crís Carcará) que tiveram a oportunidade de gravar seus vídeos com mais recursos técnicos. O grupo Lúdica Música!, por sua vez, lançou o “Videoclipes mundo louco”.
Entre os documentários, houve desde o registro dos relatos e da memória musical da cidade em “Toque do samba”, de Vanessa Rabelo, Vanessa Resende e Mariana Tavares, à vida das pessoas em condição de rua de “Habita-me se em ti transito, de Guilherme Landim e Claudia Rangel. O ano foi marcado, ainda, pela exibição de curtas-metragens em diversos pontos da cidade, de forma gratuita, como na praça do Bairro São Mateus.
Mas nem tudo é cinema autoral independente na sétima arte. As salas de cinema continuaram a ser ocupadas pelos blockbusters norte-americanos, a ponto de a proposta de restringir lançamentos de filmes estrangeiros a 30% das salas ter entrado em discussão e ter sido aprovada para vigorar a partir de 1º de janeiro de 2015, após a invasão promovida por Jenniffer Lawrence e seus “Jogos Vorazes”, que estreou em 1.300 das cerca de 2.800 salas do país. Logo depois, ainda veio a última parte da trilogia de “O Hobbit”, seguida pela megaprodução bíblica “Êxodo”, que estreia no Natal.
E a onda de adaptações/continuações continua forte em Hollywood, sem contar os remakes e reedições de histórias antigas. Algumas delas, como as franquias “Capitão América”, “X-Men”, Planeta dos Macacos” e “Guardiões da Galáxia”, foram bem na bilheteria e crítica, enquanto que “Robocop”, “300”, “Homem-Aranha” e “Godzilla” ficaram devendo. Do novo “Transformers”, então, melhor nem comentar. “Frozen”, por sua vez, foi a animação melhor sucedida no país este ano. O cinema autoral, porém, manteve-se vivo em produções como “O Grande Hotel Budapeste”, “O Teorema Zero”, “Interestelar”, “O lobo de Wall Street”, “Clube de Compras Dallas” e “Magia ao luar”.
Já o cinema brasileiro, para quem se cobra tanto espaço, teve um ano repleto de produções, mas a quantidade não representou qualidade. O que mais se viu foram comédias emulando os esquemas holywoodianos com algum ator global. Seja em “O candidato honesto”, “Copa de Elite” ou “Made in China”, a falta de criatividade foi o tom. Quando não se investe em comédia, o filão é o das biografias, com filmes retratando as vidas de Getúlio Vargas, Joãosinho Trinta, Tim Maia, Paulo Coelho…