Preços dos serviços em alta
O consumidor mais atento já percebeu, no bolso, que os serviços estão subindo acima da inflação. Em média, a alimentação fora do lar, os gastos no salão de beleza e o conserto do carro – só para citar alguns exemplos – sofreram reajuste acima dos 6,56% da inflação oficial. A taxa refere-se ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que, nos últimos 12 meses – até novembro – , permanece acima do teto da meta (6,5%). Sem a concorrência do mercado externo e ditada prioritariamente pela demanda, a inflação de serviços promete continuar à frente do IPCA. Enquanto espera por ajuste da procura, exige mudança no comportamento do consumidor.
Apesar de a inflação de serviços ter ficado em 0,46% em novembro, abaixo do IPCA no mês (0,51%), em 12 meses, supera a inflação oficial: 8,28% contra 6,56%. Da lista de 37 serviços mapeados pelo IBGE, mais da metade (51%), o equivalente a 19, apresentou alta superior ao IPCA (ver quadro). No acumulado, os maiores impactos estão em mudança (15,88%), tratamento de animais (13,53%), pintura de veículo (11,54%) e hotel (11,29%), além de consertos e manutenção (10,11%).
Conforme a pesquisadora do IBGE Irene Machado de Aguiar, além da pressão provocada pela demanda, há o impacto do reajuste dos serviços com preços administrados. A energia elétrica lidera a lista com alta de 16,82% nos últimos 12 meses, seguida por óleo diesel (9,96%) e planos de saúde (9,39%). Para Irene, a tendência é que a inflação de serviços continue superando o IPCA neste final de ano, sem movimentos drásticos. Segundo a pesquisadora, se o consumidor pode reduzir a contratação de determinados serviços, como os relacionados a cuidados pessoais, não pode abrir mão de outros, como alimentação fora do lar, dependendo da jornada profissional, e do investimento em educação.
O coordenador do Curso de Economia do Ibmec-MG, Márcio Salvato, explica que trata-se de inflação de demanda, quando a procura supera a oferta de serviços, levando à escalada de preços. Segundo ele, a renda média da população vem subindo, permitindo ou aumentando o acesso dos consumidores a um maior número de serviços. “O problema é que a oferta não vem crescendo na mesma velocidade da demanda, fazendo com que os preços sejam majorados até mais do que o restante da economia.” Para Salvato, a tendência persiste em 2015, já que 2014 tem sido um ano de baixo investimento. Para ele, apesar das medidas adotadas para conter a procura, como as elevações sucessivas da Selic, é possível reduzir a aceleração dos preços sem reverter o quadro a curto prazo.
Como os serviços possuem a característica de “não-comercializáveis”, não sofrendo concorrência com importados, os preços sobem mais à medida em que ocorre excesso de demanda ou pressão de custos salariais, aponta o economista Guilherme Ventura, professor do Centro de Ensino Superior (CES/JF) e coordenador do curso Executive MBA Gestão Empresarial. “A inflação de serviços seguirá à frente do IPCA e a sua convergência para mais próximo da média da inflação oficial vai depender do ajuste da demanda no plano de combate à inflação e da capacidade de os setores de serviço aumentarem a produtividade.” A exemplo de todos os outros bens, a orientação é que o consumidor compare preços e negocie condições para a contratação do serviço, lançando mão de substituições sempre que possível.
O gerente regional do Sebrae, João Roberto Marques Lobo, explica que os serviços não sofrem regulamentação de preços, salvo em algumas exceções, como os de preços administrados. Ele avalia que alguns serviços, mais especializados e com menor concorrência, têm a possibilidade de aumentar os preços acima dos indicadores oficiais. Já aqueles com concorrência maior e mais madura não contam com essa facilidade, explica. Entre os serviços especiais, ele cita os de saúde e beleza com expressivo crescimento na cidade. “Estes serviços, daqui a um tempo, vão encontrar uma barreira para a majoração como tem sido feita até agora”, diz, apontando para o aumento esperado da concorrência. “Em serviços em que o cliente é muito sensível a preço e não tem muita fidelidade, a empresa, ao exercer aumentos elevados, pode acabar perdendo clientes no médio prazo.”
Indexação
Conforme Ventura, os setores que contratam pessoal menos qualificado, de mais baixo salário, recebem maior pressão de indexação do aumento ao mínimo. O salário mínimo previsto a partir de 1º de janeiro é R$ 788,06, sem arredondamento, o equivalente a alta de 8,8% em relação aos atuais R$ 724. Mais uma vez, o percentual encontra-se acima da inflação acumulada no ano até agora. “O impacto para o consumidor é experimentar o aumento do peso destes serviços no orçamento doméstico”, diz, advertindo que toda indexação deixa a inflação “mais resistente”.
Consumidor espera mais aumentos
Além de já ter identificado aumento nos serviços em 2014, o consumidor espera novas altas em 2015. O Indicador de Expectativa de Inflação dos Consumidores, divulgado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostra que a inflação mediana prevista pelos brasileiros para os próximos 12 meses (a contar de novembro) ficou em 7,5%, com viés de alta. Segundo o economista da FGV Pedro Costa Ferreira, o indicador está em tendência de alta porque, apesar de ter mantido a média de 7,5% entre outubro e novembro, o percentual de pessoas que espera inflação igual ou maior do que 7% aumentou, enquanto a participação dos que apostam em inflação menor do que 7% diminuiu. “A constatação é preocupante, uma vez que o índice já se encontra em patamar elevado.”
Ajuste
Para o economista Guilherme Ventura, o resultado do indicador comprova que as expectativas dos consumidores não estão ancoradas como deveriam pelo sistema de metas da inflação. “A política econômica deixou a desejar em termos de combate à inflação e será necessário ajuste fiscal e monetário em 2015 para fazer as expectativas convergirem para o centro da meta de inflação de 4,5% ao ano em 2016.”
Mediante a pressão inflacionária especialmente nos serviços, a presidente do Movimento de Donas de Casa e Consumidores de Juiz de Fora, Lea Ganimi, destaca a importância de pesquisar preços para identificar a oferta de serviço com melhor custo-benefício. Entre os cuidados na contratação estão: verificar se o orçamento inclui mão de obra, pedir referência e se certificar da idoneidade do profissional ou da empresa contratados junto a órgãos de defesa do consumidor. “Exigir nota fiscal, recibo e garantia do serviço executado também são fundamentais”, orienta.
Serviços concentram empregos em JF
Conhecida por ter se tornado uma cidade de serviços, Juiz de Fora concentra quase metade (49,8%) dos empregos formais na área, 76.570 dos 153.610 postos com carteira assinada, conforme dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais). A remuneração média paga aos trabalhadores do setor é de R$ 1.893,68, um pouco acima da média praticada no município (R$ 1,769,07). Os dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) referem-se a dezembro de 2013.
Conforme o coordenador do Curso de Economia do Ibmec-MG, Márcio Salvato, o fato de Juiz de Fora ser uma cidade prevalente em serviços não significa dizer que a população está mais suscetível às altas do setor. A questão, diz, é saber se a oferta de serviços na cidade está aumentando na mesma proporção da demanda e se é possível atendê-la, o que não acontece na maioria das cidades brasialeiras. “A inflação de serviços em Juiz de Fora depende se o setor consegue responder ao crescimento da demanda. É preciso saber como os empresários da região estão olhando para esse momento delicado e se estão investindo.”