Abrigo acolhe pacientes de próteses faciais
Seis, dos dez pacientes que irão receber da UFJF próteses para a reparação de seus rostos, estão hospedados na Bethânia Casa de Passagem e Acolhimento, no Bairro Granbery, região central. O local, que abriga gratuitamente pacientes carentes vindos de outras cidades para o tratamento contra o câncer em hospitais de Juiz de Fora, esta semana abriu as portas para os participantes do 1º Encontro de Prótese Maxilofacial: a odontologia que reabilita a alma”, que acontece na UFJF.
De acordo com a responsável pelo evento, Elizabeth Rodrigues Alfenas, coordenadora do projeto “Reabilitação protética do paciente com perda de substância bucal e facial”, da Faculdade de Odontologia da universidade, se não fosse o apoio oferecido pela Casa Bethânia, muitos pacientes não poderiam vir a Juiz de Fora para receber suas próteses. Dos dez assistidos pelo programa, apenas três puderam se hospedar em hotéis, e uma, na casa de familiares. “Eles estão em um momento de reabilitação, precisavam ficar na cidade para que o tratamento deles não fosse interrompido.”
O aposentado Márcio José Palhares, 57 anos, residente em Belo Horizonte, é um dos acolhidos na casa. Em 2011, em decorrência de um câncer, ele perdeu o nariz, partes da boca e o maxilar. Na Casa Bethânia, às vésperas de receber a nova prótese para o rosto, o aposentado conta bem humorado que “nem estranhou a cama”. “Fui muito bem acolhido, estou me sentindo em casa. Não mediram esforços para nos agradar.”
Márcio diz, ainda, que a convivência com outros pacientes é muito positiva. “Quem tem câncer tem um jeito próprio de entender as pessoas que também têm. Essa proximidade nos fortalece. Aqui, cada um conta a sua história e um anima o outro. Só quem passou por isso sabe como é. A sociedade exclui a pessoa mutilada, até a própria família se afasta. Encontrar essa hospitalidade, como a Casa Bethânia, nos dá força.” Com a prótese oferecida pelo projeto da UFJF, Márcio pôde voltar a ingerir líquidos e comidas pastosas. Antes, a alimentação era feita por meio de sonda.
Refeições e hospedagem
A Bethânia Casa de Passagem e Acolhimento foi fundada há 20 anos pelo padre David José Reis. Inicialmente, ela funcionava na Casa Paroquial da Igreja do Rosário, no Granbery. Em 2007, o serviço foi ampliado com a inauguração de dois imóveis na Rua Santos Dumont, 117 e 236. A casa oferece, de segunda à sexta-feira, quartos para repouso e hospedagem. São servidas de 30 a 40 refeições diárias, tudo gratuito, com o apoio de voluntários e doações. Atualmente, 27 pessoas estão hospedadas no local. Além delas, outras 15 passam o dia na casa para tratamento e retornam para seus lares à noite.
“Esse acolhimento é a tradução, de maneira muito concreta, do ensinamento que Jesus deixou para nós: ‘Amei-vos uns aos outros’. Por isso, eu vivo esta casa, este serviço, como uma prática do amor fraterno”, afirma padre David. “É um privilégio poder contribuir com esse trabalho tão importante”, atesta a presidente administrativa do local, Maria Elizabeth Vidaurre Nassif. Empenho reconhecido por quem, em um momento difícil, encontrou apoio em pessoas até então desconhecidas. “É um trabalho muito importante para nós que estamos fragilizados no espírito e na carne. Não tenho palavras para agradecer o carinho”, diz Márcio que, neste fim de semana, ao deixar a Casa Bethânia, vai em busca de uma nova vida após a face reabilitada.
Outras informações sobre o trabalho realizado na Casa de Passagem pelo www.bethaniacasadepassagem.org.br.