Alunos vivenciam dificuldades nas ruas
A inversão de papéis é o primeiro passo para o ser humano mudar seus hábitos e eliminar preconceitos. Na manhã de ontem, 32 alunos do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFJF tomaram as ruas do Centro para realizar uma atividade acadêmica para vivenciarem, na prática, os desafios diários impostos às pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida diante dos equipamentos públicos que deveriam ser destinados à acessibilidade. Para sentirem na pele estas dificuldades, como rampas nas calçadas feitas com inclinações incorretas e solo irregular, eles utilizaram vendas nos olhos, protetores auriculares e uma cadeira de rodas, simulando a vida de pessoas cegas, surdas e cadeirantes.
Os grupos se dividiram nos seis pontos da cidade avaliados durante a atividade. Entre eles estiveram o Parque Halfeld, a Praça da Estação, o Calçadão da Halfeld, a Rua Santo Antônio e as avenidas Getúlio Vargas e Rio Branco. “Quando nos colocamos no lugar do outro percebemos que as dificuldades são enormes. Muitos deficientes andam por aí em pisos irregulares e sem segurança alguma. Isto toca bastante a gente, no sentido de pensar mais no próximo”, comenta a estudante do 2º período do curso Laura Soares, 19 anos. Ela acompanhava o colega Eduardo Rosa, 23, que encarou a atividade com os olhos vendados. “Senti muita dificuldade em identificar os obstáculos. Próximo do orelhão, por exemplo, não tinha o piso tátil. Quase caí sobre ele”, comenta.
José Augusto Recker, 24, aluno do 3º período, conta que a dificuldade começou ainda na saída da UFJF. “Fui como cadeirante e, antes mesmo de chegar ao ponto de ônibus, quase cai em um buraco. Meus colegas me seguraram. Subi e desci do ônibus pelo elevador e vi como as pessoas dentro do coletivo desviam o olhar quando passam por um deficiente”, comenta. “Percebemos que muitas pessoas tratam os deficientes como se fossem invisíveis, já outras não sabem como podem ajudá-los. Isto cria em nós uma sensação de impotência”, comenta Letícia Ramalho, 19, também do 3º período. “Mesmo escutando pouco, a gente percebe como é difícil se locomover sem a audição. A gente não consegue perceber o que vem próximo de nós. Isto complica bem o trajeto”, ressalta Deivid Matos, 26, também integrante do grupo.
“Queremos que estes futuros arquitetos e urbanistas se sensibilizem para a questão das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, para que eles possam identificar e quebrar, no futuro, as barreiras existentes entre estas pessoas e a cidade”, destaca o professor Emmanuel Pedroso, coordenador da atividade. Segundo ele, embora as edificações estejam atentas às normas de acessibilidade, é necessário quebrar as barreiras físicas, comportamentais e de informação. “Os alunos precisam se colocar no lugar destas pessoas para que elas não passem despercebidas.” A atividade faz parte da disciplina eletiva Acessibilidade no ambiente construído e reuniu alunos do 1º, 2º e 3º períodos do curso. Ao final do semestre, como conclusão dos trabalhos, os alunos vão elaborar sugestões de melhorias aos locais avaliados.