Atenção para os versos dos poetas
Os versos do poeta renunciam qualquer necessidade de ter serventia. “Fazer poesia é investir na resistência, investir na alegria”, reflete o escritor e professor de literatura Luiz Fernando Medeiros, buscando na “Vida passada a limpo”, de Carlos Drummond de Andrade, a justificativa para sua crença. “Drummond diz que, ali, não está preocupado com as formas ancestrais da poesia portuguesa e brasileira, Camões ou Mario de Andrade. Ele só está preocupado em falar do cotidiano, rascunhos de vida”, diz o escritor, que, ao lado da jornalista Marcia Carneiro, é autor de “Tímpanos”. “A poesia é anticonsumo, serve para criar uma empatia com o outro”, completa a escritora. Parceiros também na vida, Marcia e Luiz Fernando compartilham das mesmas convicções na escrita, o que não demorou muito para desembocar na publicação, que será lançada, pela editora TextoTerritório, nesta quinta-feira, às 19h, na Livraria Liberdade.
Também com selo da editora carioca, Rogério Batalha autografa, no mesmo dia, seu “Exercício de nuvens”, mostrando-se um poeta distinto do que já foi apresentado em obras anteriores. “De uma certa medida, os outros livros dialogaram com o aspecto físico das coisas, o lado visceral. Esse tenta transitar por ambientes etéreos, implícitos.” Para o evento de lançamento, estão programados um pocket show de Danniel Goulart e Wesley Carvalho, apresentação de um vídeo de Nícolas Rodrigues com leitura de poemas pela atriz carioca Cláudia Netto e pelos professores Fernando Fiorese, Terezinha Scher, Alexandre Faria, Oswaldo Martins, Maria Luiza Scher e Geysa Silva, além de discotecagem de Edson Leão e Bruno Tuler.
[Relaciondas_post] Muitos dos versos já existiam. Com a aproximação da dupla de escritores, veio a descoberta de uma unidade entre eles. “O que temos em comum são os sentimentos, as percepções, o que tem a ver com o que as pessoas pensam, é algo universal”, diz Marcia, volta e meia retirando-se da posição de evidência, para dar à sua arte o lugar que ela merece. Curioso, o leitor deve se jogar nesta viagem com calma. Não tente descobrir, de imediato, a autoria das palavras que abrem o livro: “Não repito a sina de sísifo/ das pedras só a angular/ com seu leite/ aciono o movimento/ sem ser água/ de moinho cansado/careço de nuvem/sísifo esfuma-se/o caminho/ solfeja.”
O responsável por cada poema só é revelado no final, como uma espécie de jogo de adivinhações e surpresas. “Queríamos brincar com o leitor, fazê-lo experimentar. Antes de mandar o livro para a gráfica, mostramos alguns poemas para amigos nossos, e as pessoas não acertavam de quem era. Achei isso genial, esta coisa está muito integrada”, comenta Luiz Fernando. A explicação para o título da obra está no labirinto mitológico e na busca por “situar o minotauro por entre formas, ritmo e música das palavras”, segundo contam os autores. “Aqui o minotauro está vivo. É na transmutação do labirinto espacial para o labirinto sonoro dos ouvidos, dos ouvidos plurais, porque cada um ouve a música das palavras de uma forma diferente. Todo mundo é livre para experimentar. Esse é um livro de liberdade. Um pequeno fragmento pode levar uma pessoa a um outro mundo, um mundo de sonhos, de imaginação”, completa Luiz Fernando.
LANÇAMENTO DE LIVROS
‘Tímpanos”, de Marcia Carneiro e Luiz Fernando Medeiros
“Exercício de nuvens”, de Rogério Batalha
3 de setembro, às 19h
Livraria Liberdade