Atualizando rumos
Ser atual impõe ao artista veterano o desafio de se renovar, encarando o passado como impulso e não como grilhões. Ao jovem artista, por outro lado, incita o risco de percorrer o novo, sabendo o que já foi feito e o que é coerente fazer. Ser contemporâneo, então, é compreender a noção de “fim da história arte”, sugerida pelo teórico alemão Hans Belting, e ainda assim prosseguir. Segundo o estudioso, as vanguardas impuseram às artes, uma nova maneira de ler e escrever a história, que já não passa pela regência de estilos e irrompe em alguma novidade. Reunindo o hoje das artes visuais juiz-foranas, o 1º Circuito de Arte Atual apresenta tal impulso ao colocar, lado a lado, diferentes gerações autoras de um mesmo contemporâneo.
A proposta da Pró-reitoria de Cultura da UFJF, que termina no dia 23 de dezembro, espalha por sete galerias – entre públicas e privadas – os trabalhos que têm sido desenvolvidos pela cidade. “Para a classe artística, é importante reconhecer seus pares e identificar o momento em que ele está produzindo”, comenta Valéria Faria, pró-reitora de Cultura, professora do Instituto de Artes e Design e artista visual. Sem uma leitura e unidade definidas, a heterogeneidade marca a apresentação dos 80 artistas locais. Porém, a figura de um curador poderia servir positivamente ao mapeamento. “Discutimos a necessidade de ter um curador. Dessa vez optamos pela comissão organizadora. Na próxima edição existirá”, pontua Valéria.
“Precisamos seguir por um caminho mais crítico para falar desse contemporâneo”, ressalta Renato Abud, artista e coordenador do Espaço Manufato, membro da comissão organizadora. “Esse ano também não foi possível fazer do Circuito um espaço de difusão de pesquisa, de ideias, fazendo seminários e trazendo estudiosos, mas esse é um projeto futuro. Por partir do meio universitário, pode e deve ter um perfil acadêmico”, defende a pró-reitora, referindo-se à possibilidade de tornar a espécie de “feira” – ambiciosa ao ocupar galerias de diferentes perfis -, um evento mais impactante e de contribuições mais profundas e duradouras.
As figuras de hoje
Ainda que não hajam predominâncias (de estilos, discursos e técnicas), o Circuito aponta para pontos que a própria arte contemporânea desenha nas últimas décadas, como o fortalecimento da fotografia enquanto expressão liberta dos ditames do registro e o enriquecimento do figurativo não enquanto representação, mas como construção narrativa. “Percebo uma tendência de aproximação das outras visualidades com o pensamento e o olhar fotográficos”, destaca Nina Mello, artista e coordenadora da CasaVinteum e membro da comissão organizadora. “Muitos artistas merecem ser acompanhados”, concorda Renato Abud, que espera realizar individuais em 2016 com nomes que conheceu no evento.
Para Petrillo, artista, professor e coordenador da Hiato – Ambiente de Arte, o Circuito possibilita que “o elenco da cidade se renove, contribuindo na circulação”. “Além disso, é urgente mostrar quem está começando”, afirma, apontando para uma das mais vibrantes características do evento, que reúne uma nova geração afinada com o universal e, também, consciente de sua localidade. Mesmo parecendo um cenário múltiplo e disforme (no qual faltam propostas vanguardistas em vídeo e performances), a arte contemporânea de Juiz de Fora, quando atualizados seus rumos, revela-se terreno fértil, fresco e encorajador.