Avenida JK tem índice crescente de acidentes
Nos três primeiros meses deste ano, a Avenida JK foi cenário de 83 acidentes de trânsito. Este resultado coloca o principal acesso à Zona Norte como a terceira via em número de ocorrências de trânsito em toda a cidade, perdendo apenas para as avenidas Rio Branco, com 115, e Brasil, na margem direita, com 84 acidentes. Os dados, disponibilizados pela 4ª Região de Polícia Militar, chamam atenção, ainda, nos detalhes. Em uma análise de igual período do ano passado, a JK é a que apresentou o maior aumento no índice de acidentes, com crescimento de 15%. A margem direita da Avenida Brasil também teve crescimento em ocorrências, de 5%, enquanto as avenidas Rio Branco e Itamar Franco declinaram, respectivamente, em 20% e 16%.
Dos 83 acidentes registrados na JK este ano, dois foram destaque na cidade. O mais recente envolveu dois ônibus urbanos e deixou mais de 20 pessoas feridas, no dia 27 de março. O caso ainda é investigado pela Polícia Civil. Menos de uma semana antes, dia 23, um estudante do Colégio Militar, 11 anos, foi atropelado por um carro e sofreu diversas escoriações. Ele ainda permanece internado, mas seu quadro clínico é de constante melhora.
Não é difícil compreender os acidentes que ocorrem nos 19 quilômetros de extensão da Avenida JK. Embora equipada por conjuntos semafóricos e equipamentos de radares que limitam a velocidade máxima em 60 km/h, além de várias faixas de travessia, a imprudência é flagrante. Na semana passada, a Tribuna esteve em trechos da via durante uma hora e constatou dezenas de abusos, tanto de motoristas como de pedestres. Em determinado momento, a recepcionista Valkíria Elpes, 35 anos, precisou aguardar a passagem de duas carretas e um ônibus interestadual até conseguir atravessar, mesmo com o semáforo já fechado para os veículos. “É este tipo de imprudência a todo o momento. Os motoristas não respeitam os semáforos. Sem contar as freadas que sempre ouvimos”, contou.
Falta atenção
Na avaliação do tenente Marcus Leandro Silva, comandante do Pelotão de Trânsito da Polícia Militar (PPTran), a falta de atenção dos motoristas e dos pedestres pode ser uma das razões para o crescente número de ocorrências na JK. “No que cabe ao pedestre, por exemplo, observamos que muitos não atravessam nas faixas e ainda se distraem com smartphones ou ouvindo músicas. Esta é uma realidade não apenas da JK, como também de outras vias de grande circulação da cidade. Isso também ocorre com os motoristas, que acabam desviando o foco e perdendo a concentração.” Para reduzir a possibilidade de novos acidentes, o tenente garante que faz abordagens educativas constantes em vias de grande circulação, inclusive na JK. Mas segundo ele, na avenida, este trabalho requer atenção e planejamento, já que deve ser feito sem gerar gargalos ou novos riscos de acidentes.
Grande movimento
O chefe do Departamento de Fiscalização da Settra, Paulo Peron Júnior, explica que a característica da Avenida JK a torna potencialmente mais perigosa que as demais. “Ela tem grande movimentação de veículos em razão dos bairros e do acesso às rodovias. Sem contar que possibilita aumento de velocidade, o que não ocorre, por exemplo, em avenidas como a Rio Branco, onde os acidentes tendem a ser menos graves. Se excluirmos os atropelamentos, estaríamos falando, basicamente, de algumas colisões. Já na JK temos os atropelamentos, as batidas, mas também os capotamentos e outros acidentes mais graves. Ou seja, o mau comportamento do condutor nos leva a este resultado, que tem a imprudência como a principal causa”, disse.
Radares multaram mais de 3 mil vezes em 2017
Entre janeiro e março, os radares instalados na Avenida JK flagraram 3.131 veículos abusando da velocidade máxima permitida, que é de 60 quilômetros por hora. De acordo com o marceneiro Edson Andrada, 43 anos, morador do Bairro Barbosa Lage, carros e motos em alta velocidade são situações observadas a todo o momento. “Só respeitam a velocidade perto dos radares. Passou a JK vira pista de corrida.” Esta é a mesma impressão da professora aposentada Claudilene Assis, 51 anos, moradora da Cidade do Sol. Segundo ela, dá medo caminhar na via até mesmo na calçada. “Temos a impressão que, na batida entre carros, eles podem acabar atingindo os pedestres. Trabalhei muitos anos em uma escola do Nova Era e, mesmo sendo perto da minha casa, preferia ir de carro.” Segundo ela, as alterações viárias na avenida devem ser feitas precedidas de uma ampla consulta. “A JK tem características distintas, dependendo do trecho. Estas particularidades, só os moradores e os motoristas que transitam pela avenida podem dizer.” Uma sugestão da moradora é a colocação de radares que demonstram a velocidade empregada pelo veículo.
Para o chefe do Departamento de Fiscalização da Settra, Paulo Peron Júnior, novos dispositivos não estão descartados. “Temos que pensar em soluções baseadas em medidas que envolvam a educação para o trânsito, a engenharia de tráfego e a mobilidade urbana, com segurança e fluidez. No caso do quebra-molas, por exemplo, esta é a primeira ideia que vem à cabeça das pessoas, mas esbarramos na questão legal”, disse, lembrando que a Avenida JK, embora municipalizada, é extensão da rodovia BR-267. “Já os radares dependem de recursos, porque eles são caros. O elevado número de multas paga o radar, mas o objetivo não é arrecadatório, e sim educativo”, esclareceu, acrescentando, ainda, que dispositivos de tríplice função, como os existentes nas avenidas Rio Branco e Paulo Japiassu Coelho, podem ser implantados na JK. Nesta tecnologia, os aparelhos conseguem fiscalizar não apenas o excesso de velocidade, como também o avanço do semáforo e a parada sobre as faixas de travessia. Ainda conforme Peron, embora não haja radares por toda a via, a sinalização existente tem como objetivo alertar os motoristas sobre as limitações da avenida.
Conscientização reforçada no Maio Amarelo
Durante todo o ano, a Settra investe em campanhas educativas com intuito de conscientizar os atores do trânsito sobre os riscos no tráfego. Esta atividade é reforçada em maio, com a campanha nacional Maio Amarelo, do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), replicada em vários municípios brasileiros. “Precisamos chamar atenção para o alto índice de mortes no trânsito, mostrando que ele mata e fere muito. As pessoas precisam entender isso”, disse o chefe do Departamento de Fiscalização da Settra, Paulo Peron Júnior.
De acordo com ele, qualquer entidade que atraia público, como igrejas, escolas e organizações não governamentais, pode solicitar palestras para a secretaria. Os agendamentos são feitos por meio do telefone 3690-8235. “Os agentes de trânsito fazem estas palestras, principalmente com foco em crianças e adolescentes, que são considerados multiplicadores.”