Bom-senso no uso da água
Uma lei se faz importante quando conclama a sociedade à reflexão sobre seu protagonismo nas mudanças do seu comportamento, tentando responder aos anseios e às necessidades que se apresentam de melhorias. Isto obrigatoriamente não se dará da noite para o dia. Assim, melhorar em pontos nos quais os excessos de uns prejudicam e interferem na qualidade de vida dos outros passa a ser o objetivo maior. Diante da realidade de escassez da água nos grandes centros, nos quais Juiz de Fora se inclui, percebemos a necessidade de incutir nos próprios cidadãos este processo de avaliação e responsabilidade contra os gastos excessivos deste recurso natural não renovável, que precisa ser usado com mais inteligência e menos desperdício. Por isso, propusemos a lei que impede a lavagem de nossas calçadas com água tratada.
No entanto, ressaltamos que o bom-senso precisa estar sempre à frente. Quando a lei propõe a proibição deste comportamento, é porque a água tem sido usada comumente no lugar da vassoura para retirar a poeira dos nossos passeios. Quantos de nós já não nos indignamos com este comportamento em nossas ruas? Quantas vezes a própria imprensa já não realizou flagrantes deste comportamento, que não pode ser mantido diante da nova realidade mundial e que o Brasil já enfrenta, mesmo sendo a nação que possui 12% de toda a água doce superficial do planeta, recurso este que não é maior do que 3% de toda a água do planeta Terra?
Obviamente que, além das situações já previstas na lei de permissão do uso da água tratada, como após enchentes e deslizamentos que resultem na necessidade de limpeza de vias públicas, há casos que serão considerados e permitidos quando a sujeira precisar ser removida com o uso da água, em especial em frente a comércios. Mas estes casos são as exceções, e não a regra. E é a própria população que precisa administrar suas necessidades de água e avisar à Cesama nos momentos em que se configurar o desperdício. Reiteramos que já há regiões da cidade onde, durante o período de altas temperaturas e de estiagem, crescem as ocorrências de falta d’água, como têm denunciado algumas comunidades da Zona Norte e da Zona Sul, por meio da imprensa. Há, inclusive, abaixo-assinados por causa do problema e comunidades, como a do Bairro Santa Cruz, onde as caixas d’águas vazias são quadros persistentes no período de estiagem há pelo menos três anos. Na Zona Sul, as reclamações chegam, por exemplo, do Bairro Jardim Gaúcho.
Como representante dos cidadãos juiz-foranos, meu trabalho como vereador é entender estas necessidades, pois se há falta em alguns lugares, não se pode haver abusos em outros. Também estamos cientes de que é preciso cuidar melhor de nossos mananciais, com a mesma vigilância, principalmente o nosso futuro reservatório de Chapéu D’Uvas, para que não seja alvo de irregularidades em seu entorno, conforme já vivenciamos em dois importantes mananciais do município, as represas de João Penido e de São Pedro. A simples proibição da lavagem das calçadas pode não resolver a escassez, mas é um caminho para abrir nossas mentes sobre a necessidade de um amplo programa de uso racional da água e de proteção dos nossos mananciais.