Comandante quer tropa na rua contra a violência
“Trabalhar 24 horas por dia nos sete dias da semana.” Com esse propósito, o coronel Alexandre Nocelli assumiu o comando da 4ª Região de Polícia Militar (4ª RPM), que, além de Juiz de Fora, engloba 85 municípios da Zona da Mata. Em entrevista exclusiva à Tribuna, o comandante pontuou que sua meta é colocar a tropa da PM nas ruas com seus respectivos comandantes, com foco em ações repressivas de qualidade para combater a onda de violência que vitimiza a cidade. Ele assegura que, para lutar nessa frente, não abrirá mão do apoio da comunidade e de todos os órgãos envolvidos com a questão, como o Poder Judiciário, o Ministério Público e a Polícia Civil.
Nessa empreitada, Nocelli destaca a importância do trabalho de inteligência da PM, na busca para identificar e prender autores de crimes e contribuir para a redução dos índices de criminalidade. “O trabalho anônimo feito pelo nosso pessoal de inteligência é maravilhoso. Costumamos providenciar insumos para outros órgãos, como o Judiciário, o Ministério Público e a Polícia Civil. Com esta última, temos parceria e trocamos informações. A meta é ampliar esse trabalho e inová-lo. Uma diretriz é nossa frota estar nas ruas com seus comandantes. Eles vão verificar in loco o policiamento, combatendo o desperdício funcional. Vamos trabalhar com proficiência junto com órgãos que compõem o sistema.”
Em 2016, Juiz de Fora acumulou 154 mortes violentas, conforme dados da Tribuna, que consideram, além dos homicídios, as mortes resultantes de tentativas de assassinatos, latrocínios e feminicídios. O total de casos é 17,5% maior do que os 131 registrados em 2015. Convicto do trabalho para a diminuição dos números, coronel Nocelli assinala que, nessa “guerra”, é necessário esforço articulado. “Quando eu disse que viria para guerra (referência a seu discurso de posse), a expressão é essa mesmo. Eu vou para guerra, infelizmente, porque a gente vive numa guerra. Para mim não é fácil, não é bom ter que falar de morte violenta em Juiz de Fora, pois temos que conviver com jovens morrendo precocemente em razão da violência. Não é só a polícia que vai resolver, porque há um pano de fundo interessante. Quando se mata e quando se morre, é porque existe um processo com relação à rivalidade, às drogas, à desestrutura familiar e a uma ausência de valores. São números estarrecedores e, quando se fala em homicídio, o ideal era que fosse zero, mas infelizmente isso faz parte da natureza humana. O ser humano, de alguma maneira, procura garantir algum status, que o leva à violência e até a matar o seu semelhante. Então é uma questão que passa pela educação, valores, resgate de algumas assertivas importantes para o cotidiano social. As relações sociais hoje são efêmeras e estamos sentindo a falta de muita coisa e, muitas vezes, isso acaba na violência e, pior ainda, na violência letal. Estamos fazendo a repressão e vamos otimizar esse processo, identificando autores, mapeando as redes sociais. Já estamos fazendo isso. Ir para guerra compreende isso, fazer um trabalho focado na inteligência e fazer frente a essa questão. A Polícia Civil está de parabéns, identificando os autores, mas temos que tentar evitar esse quadro, evitar que os crimes aconteçam. Esse é o nosso desafio, que é enorme. Temos que pensar que esses meninos que matam uns aos outros têm que canalizar essa energia para coisas boas e vamos trabalhar nesse sentido.”
Reincidência criminal
Outro ponto a ser vencido lembrado pelo coronel é a reincidência e a repetição criminal. “Às vezes, o mesmo autor já foi apreendido ou preso cinco, seis, sete, oito, nove e até mesmo dez vezes, e ele está nas ruas cometendo crimes. É uma questão que envolve todo o sistema e não cabe a mim apontar quem é o culpado, mas o certo é que isso tem que parar. Ao se prender um criminoso ou apreender um adolescente, eles têm que pagar. Não pode ter a margem de entrar e sair. Eles ainda falam para a gente: “eu vou sair e matar de novo”. Isso é muito frustrante para o policial, pois ele despende toda a sua energia para a prisão, que tem um custo para o erário e, muitas vezes, esse autor volta para rua e comete mais crimes.”
Dinâmica do tráfico por trás dos roubos
Em todo o município, os roubos contra pedestres cresceram 45%, já que, no ano passado, Juiz de Fora acumulou 1.251 casos contra 859 em 2015, segundo dados da 4ª RPM. Os assaltos contra pedestres estão no rol dos crimes praticados contra o patrimônio, que é um dos que mais afligem a população. Conforme o comandante Nocelli, o roubo a pedestre é a ponta do “iceberg” para o tráfico de drogas, que é a faceta mais cruel desse processo.
“O traficante é a escória da sociedade, é um ser desprezível. Ele leva à degradação familiar. Ele é um rato que precisa ser expurgado. Ele deveria ficar preso pelo menos uns 50 anos. Mas temos que lidar com o sistema, e vem a questão do roubo. Os dependentes que, na legislação, são tratados como problema de saúde, é visto por todos como responsabilidade da polícia. O usuário de crack vai encontrar no roubo o acesso mais fácil à droga. Ele vai roubar um celular e trocar na boca de fumo. Essa dinâmica é perversa. Combater o tráfico incide na questão do roubo. Além disso, existe o triângulo da oportunidade. Em cada vértice, tem a vítima, o autor e o ambiente. A PM procura trabalhar essas três variáveis. No caso da vítima, a gente pode visitar, orientar; já o autor, tem que prender, enquanto o ambiente precisa ser policiado. Neste ponto, não temos como estar em todos os locais ao mesmo tempo. Temos feito um diagnóstico para tentar ocupar esses locais. Estamos acompanhando os roubos no dia a dia e vamos ter um resultado de redução.”
Situação da PM de Minas é diferente da do ES
“A Polícia Militar de Minas Gerais tem hoje o quarto ou quinto melhor salário do país. Costumo falar que o policial nesse país, e não só o policial, mas os professores e os médicos precisam ser muito bem valorizados, porque eles dão a vida por outro cidadão que nem conhecem. É um sacerdócio. Não somos melhores que ninguém, mas qualquer sociedade justa, num país que funciona, valoriza seus policiais, professores e médicos, porque são profissões que são a base da sociedade. Não conheço a fundo o problema no Espírito Santo (que enfrentou uma greve recente dos policiais militares), mas eles têm o segundo pior salário do país. Eles estão reivindicando melhores salários e condições de trabalho. Acho difícil isso chegar a Minas, pois nossa tropa tem uma disciplina fantástica, bem formada, com valores sedimentados. Embora estejamos com salários parcelados, eles vêm sendo pagos. Estão chegando viaturas, temos uma boa prestação na área de saúde. Então, o policial militar de Minas reflete sobre isso. Nossa tropa pensa em servir incondicionalmente no local e na hora que for em nome do profissionalismo e do trabalho policial”, avalia Nocelli.
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