Ela destoou de seu tempo
Dona de uma personalidade forte e fora dos padrões ditados em seu tempo, Maria Luísa Pinto Coelho Jaguaribe, avó do escritor Pedro Nava, serviu de ponto de partida para os escritos da historiadora Rosali Henriques. “Nos primeiros livros, Nava dedica muitas páginas à avó materna. Uma avó despótica, amada pelas filhas, mas odiada pelos genros”, afirma Rosali, cuja pesquisa sobre o papel feminino na cidade durante a Belle Époque, defendida em 1988, ganhou novos contornos e linguagem mais simples ao saltar para o livro “A mulher em Juiz de Fora sob o olhar de Pedro Nava” (73 páginas). O lançamento está marcado para esta quinta-feira, 28, às 19h, no Museu de Arte Murilo Mendes.
Que mulheres são essas? São dominadoras ou não? Publicada com apoio da Lei Murilo Mendes, a obra pretende responder a essas questões, conforme aponta a autora. “Maria Luísa é o oposto da submissão, embora ela ainda tenha sido submissa ao pai e ao primeiro marido, Henrique Halfeld. Foi quando se casou com Joaquim José Nogueira Jaguaribe, que perdeu tudo e virou funcionário público, que ela acaba tomando as rédeas da família. Temos que pensar não com a cabeça da mulher de hoje, emancipada, mas com aquela do final do século XIX e início do XX”, diz Rosali, que teve em “Baú de ossos” e “Balão cativo”, entre outros títulos do escritor, a fonte primária para o livro.
Rosali voltou ao trabalho mais de 15 anos depois de tê-lo escrito, acrescentando à discussão o papel do narrador e sua função para a memória social. “O narrador tem um lugar social, fruto de um tempo e de um espaço. A avó de Nava morreu em 1913, quando ele tinha apenas 10 anos. Por isso, suas memórias sobre Maria Luísa são um tanto ficcionais. Os fatos não foram exatamente do jeito que ele conta, é a visão dele. Nossa memória é ao mesmo tempo seletiva e permeável. Tudo o que acontece na vida da gente vai alterando nossa forma de ver nossos próprios registros.”
Rosali Henriques é mestre em museologia pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia, de Lisboa (Portugal), e doutora em Memória Social pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Dos 16 anos em que atuou no Museu da Pessoa, retirou a experiência profissional com narrativas orais de histórias de vida. Debruçar-se aos registros de Nava significa jogar luzes sobre um legado ainda pouco conhecido em sua cidade natal. “Quero fazer mais e mais projetos sobre Nava. Ele tem um trabalho incrível na descrição de Juiz de Fora e das pessoas.”
A MULHER EM JUIZ DE FORA SOB O OLHAR DE PEDRO NAVA
Lançamento de livro nesta quinta, às 19h
Museu de Arte Murilo Mendes (Rua Benjamin Constant 790 – Centro)