Fórum de segurança pede basta à violência
Um documento chamado “Declaração de Juiz de Fora”, a ser enviado a autoridades governamentais no âmbito estadual federal, é o legado do 1º Fórum de Segurança do município realizado ontem, na sede da 4ª Região Integrada de Segurança Pública (Risp), no Bairro Nova Era. O evento, organizado pela PJF em parceria com a iniciativa privada, polícias Militar e Civil, Ministério Público e Poder Judiciário, teve o objetivo de buscar medidas para reduzir a criminalidade na cidade. De acordo com levantamento da Tribuna, só este ano foram 102 mortes violentas. O último caso foi dia 15, quando um jovem, 18 anos, morreu e dois adolescentes, de 13 e 15, ficaram feridos a tiros nas vilas Esperança I e II, na Zona Norte. Conforme a PM, o motivo teria sido desavença entre grupos rivais.
O encontro de ontem, que durou mais de sete horas, contou com a participação do prefeito Bruno Siqueira (PMDB), secretários municipais, chefes das polícias Federal, Militar e Civil e Corpo de Bombeiros, além de representantes das classes empresarial e comercial e entidades da sociedade civil.
Foram realizadas sete oficinas com os temas: “O tráfico e o consumo de drogas em Juiz de Fora e o impacto da violência”, “Adolescente em conflito com a lei e a reincidência juvenil”, “Medo do crime e sensação de insegurança”, “Impunidade”, “Déficit do sistema prisional e alternativas penais”, “Reincidência criminal” e “Ações imediatas integradas”. As discussões travadas nas oficinas resultaram em propostas para combater o crime, que foram transcritas para o documento (ver quadro). A declaração será assinada, oficialmente, na próxima terça-feira, às 10h, na sede da 4ª Risp, por representantes dos órgãos participantes para, posteriormente, ser encaminha às autoridades das esferas estadual e federal.
O prefeito considerou positivo o encontro e acrescentou que a iniciativa para combater a criminalidade se soma ao programa “Olho vivo”, que já instalou 24 câmeras de vigilância em pontos estratégicos da cidade. “O projeto vai mostrar resultados efetivos, que já estão sendo verificados, nos próximos meses, quando teremos as 54 câmeras em funcionamento. A tendência é de redução de 30% da criminalidade no entorno do monitoramento”, atestou Bruno.
O chefe do 4º Departamento (4º DPC), José Walter da Mota Mattos, destaca que o fórum representa “o engajamento da sociedade civil com as forças de segurança pública, o que é fundamental para o combate à violência”. O comandante da 4ª Região de Polícia Militar (4ª RPM), coronel José Geraldo de Lima, concorda e ressalta que esse é o momento em que o trabalho está voltado para uma rede de cidadania. “Acredito que deve haver a participação efetiva da comunidade na busca de soluções.” Na ocasião, o militar fez uma avaliação do funcionamento das 24 câmeras do “Olho vivo” já em funcionamento. “O projeto está em fase de testes e adaptações. Só com a execução em sua plenitude teremos resultados efetivos”, considerou.
Também presente ao encontro, o presidente do Centro Industrial e representante das entidades empresariais, Leomar Delgado, garantiu a intenção da classe em contribuir com ideias e discussões. “Queremos pensar junto, debater e buscar soluções que amenizem esse problema.”
O desafio de coibir crimes com jovens
A abertura oficial do seminário aconteceu com a palestra do juiz presidente do Tribunal do Júri de Juiz de Fora, José Armando da Silveira, com o tema “Segurança pública em Juiz de Fora: panorama atual e desafios”. Ele ressaltou que a realização do evento, por si só, evidencia a preocupação da sociedade com a questão da violência.
O magistrado também enfatizou o desafio que é coibir a participação de adolescentes na criminalidade. “Tratar da delinquência infantil e juvenil é uma prioridade absoluta, não só pelo que estão fazendo hoje, mas pelo que vão fazer amanhã. Temos que cuidar das crianças para que se tornem adultos bons e sérios.”
O prefeito Bruno Siqueira também fez considerações a respeito dos adolescentes envolvidos com a violência, que qualificou como um problema grave. “Temos uma legislação que beneficia a prática de crimes por menores de 18 anos de idade e dificulta o trabalho do Poder Judiciário e das polícias. Por isso, temos que inovar. Esse seminário serve para isso”, destacou o prefeito.
Entre as propostas que fazem parte da declaração está a criação do Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente Autor de Ato Infracional (CIA) e instalação de uma nova Vara da Infância e Juventude.
Participação popular
Representante da União Juiz-forana de Associação de Moradores de Bairro, Geraldo Magela de Paiva, foi um dos participantes das oficinas. “Essa é uma abertura para que a comunidade leve às autoridades sua preocupação.”
Já na visão da coordenadora do Movimento Juiz de Fora pela Paz e moradora do Bairro Santa Cruz, Laura Santos, a população carece de maior representação no debate. “Criminalidade, violência e segurança não são só uma questão do Poder Público, é uma demanda social. O Poder Público e as polícias têm conhecimento técnico, enquanto nós, que vivemos nas comunidades, temos nosso conhecimento de vivência e podemos acrescentar positivamente nesse debate.”