Homem que espancou ex-namorada vai a júri popular
O homem de 40 anos denunciado por agredir a ex-namorada a pauladas em fevereiro deste ano irá a júri popular por tentativa de homicídio duplamente qualificado, por motivação torpe e sofrimento desnecessário à vítima, a advogada Letícia Pereira, 30 anos. Ele foi ouvido nesta quinta-feira (3), em audiência no Fórum Benjamin Colucci. A sessão, que já tinha sido adiada, começou às 9h e durou cerca de uma hora, sendo presidida pelo juiz do Tribunal do Júri, Paulo Tristão Machado. O magistrado leu a sentença de pronúncia, afirmando que o homem permanecerá em regime fechado no Ceresp, aguardando o julgamento.
Ele já estava preso desde 25 de fevereiro, quando foi capturado em Rio Pomba, depois de ficar 22 dias foragido, após a agressão contra a ex-namorada. Ele agrediu a vítima com um bastão de madeira, provocando afundamento de crânio, fraturas no braço direito e na mão esquerda, além de hematomas pelo corpo e danos psicológicos.
O crime havia sido registrado como lesão corporal e, desde então, Letícia buscava descaracterizá-lo, a fim de enquadrar o ex-companheiro por tentativa de homicídio. O objetivo era que ele fosse levado a júri popular, ficando sujeito a uma pena maior. A meta dela foi conseguida com o apoio da Delegacia de Mulheres, que indiciou o acusado por tentativa de homicídio, e pelo Ministério Público, que o denunciou pelo mesmo crime em julho. “Hoje (quinta-feira), tirei um peso que me rodeava, pois tinha medo da possibilidade dele ser solto. Estou mais tranquila, houve justiça e percebo que essa situação não é mais pessoal, mas social. A mulher vítima perde a autoestima. Hoje posso mostrar que estou forte e incentivar outras mulheres”, afirmou Letícia.
Avanço
Para a coordenadora regional da Comissão da Mulher, advogada da OAB de Minas Gerais, Júlia Carla Duarte Melo, a alteração de lesão corporal para tentativa de homicídio foi importante para o movimento das mulheres e para a redução do número de vítimas. “Neste caso, só não houve o homicídio consumado, porque a vítima conseguiu pedir ajuda. Abriu-se um precedente para que outros casos semelhantes também tenham suas penas agravadas”, destacou Júlia, acrescentando que a lei Maria da Penha vem sendo aplicada com êxito em Juiz de Fora. Ela ainda faz um alerta: “Se as mulheres não denunciam, não é possível ter um dado exato desta realidade, pois os casos ficam subnotificados. Isso gera mais violência, pois os agressores acreditam na impunidade”.
Já para a delegada Ione Maria Moreira Dias Barbosa, uma das titulares da Delegacia de Mulheres, a pronúncia do agressor representa um avanço. “Apesar do agressor ter dolo eventual, ele quase tirou a vida da jovem, pois ela sofreu lesões graves. Este é um tipo de anomalia social que precisa ser combatido. Todos os dias há vítimas como mães, trabalhadoras e mulheres de todos os tipos. Então este agressor ir a júri popular é um exemplo de punição. Com certeza, outros eventuais agressores vão pensar duas vezes antes de levantar a mão. Esperamos, ainda, que, por meio desta conquista, mais mulheres sintam-se incentivadas a denunciar, pois é preciso lutar para acabar com qualquer tipo de violência em nossa sociedade.”