Envolvido no escândalo “Panama Papers”, que revelou o uso de off shores por investidores de todo o mundo, inclusive do Brasil, o primeiro-ministro da Islândia, Sigmundur Gunnlaugsson, não resistiu à pressão das ruas e renunciou ao cargo. Cerca de 24 mil pessoas, num país com pouco mais de 320 mil habitantes – a metade de Juiz de Fora -, foram signatárias de um abaixo-assinado que pediu a sua saída do Governo. Bem que ele tentou, mas, num país com forte viés ético, não tinha outra saída senão pedir as contas.
Enquanto isso, no Brasil, vários atores políticos foram flagrados pelo uso indevido do dinheiro público, e até com contas no exterior, mas se mantêm em seus postos, a começar pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Mais do que isso, ele tem sido um player no andamento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, agindo como se fosse um indignado, pronto a fazer justiça em nome da sociedade. Seu último ato foi bater de frente com o ministro do STF Marco Aurélio Melo, que lhe deu ordens para colocar o vice-presidente Michel Temer no mesmo processo.
A diferença vital, porém, é a formação dos políticos. O uso de dinheiro público é algo impensável na Islândia, pois até mesmo delitos de menor porte, vistos como pecados veniais por aqui, não são tolerados. Abaixo da linha do Equador, somente nos últimos anos, a população tomou consciência de que é preciso virar o jogo. Mas o caminho é longo, pois esse mesmo eleitor, que ora se indigna, é também aquele que elege tais personagens. Boa parte dos envolvidos nos escândalos que permeiam a cena nacional é recorrente, por considerar que o dinheiro público não tem dono. Mas tem.