O menino do ‘Poeirão’
Gustavo Penna
Sentado em uma cadeira na calçada de uma das ruas do Bairro Araújo, na Zona Norte de Juiz de Fora, o melhor jogador da Série D do Campeonato Brasileiro trocava um dedo de prosa com os amigos enquanto aguardava a chegada da equipe de reportagem da Tribuna. Os pés que conquistaram o reconhecimento da União Nacional das Entidades de Futebol do Brasil (Unefut) agora repousam tranquilos no chinelo, representando a paz do dever cumprido para Vitinho, meia de 25 anos que tem conquistado seu espaço no mundo da bola sem perder o orgulho de suas origens.
Das peladas no campo de várzea do bairro, o atleta do Botafogo de Ribeirão Preto passou pelos três tradicionais clubes de Juiz de Fora: Tupynambás, Sport e, já profissionalmente, Tupi. Mesmo jovem, partiu para ampliar fronteiras rumo ao futebol paulista, passando pelo Oeste e sendo destaque no Mogi Mirim por três temporadas, quando participou dos acessos da equipe da Série D até a B.
Antes de arrumar as malas para viajar até Itu, no interior de São Paulo, onde receberá nessa segunda-feira (30) o prêmio de principal destaque da Série D, Vitinho relembrou neste papo com a Tribuna a volta por cima após ser surpreendentemente dispensado do Mogi Mirim, a conquista da Série D com o Botafogo-SP e ainda avaliou a possibilidade de retornar ao Tupi, clube formador e onde conquistou a Quarta Divisão em 2011, para a campanha na desafiadora temporada 2016 que o Carijó terá pela frente.
– Tribuna – Você foi eleito o melhor jogador da Série D e foi campeão. Esse foi o ano mais importante da sua carreira?
– Vitinho – Sim. Foi um ano de muito aprendizado por duas partes. Eu estava jogando a Série B pelo Mogi Mirim, disputei como titular sete de oito jogos, e logo depois tive a notícia de que não seria aproveitado pelo clube, pelo qual tive muitas conquistas. Foram três acessos, campeão do interior, e recebi essa notícia. Falei ‘então está tudo bem, vou continuar trabalhando, meu contrato vai até dezembro’. Só que recebi um telefonema do Botafogo-SP, o clube em que estou hoje, muito feliz por sinal. Fui para lá, e o treinador me colocou para jogar. Tive uma sequência boa e, graças a Deus, consegui ganhar esse prêmio de melhor jogador, que logicamente é muito importante para a carreira de qualquer atleta. Mas o mais importante foi mesmo o título brasileiro, que foi o meu segundo.
– Nessa segunda-feira você vai receber esse prêmio, que é indicado por representantes de técnicos, jogadores e dirigentes, sinal que você está sendo observado por profissionais renomados. Isso já tem se traduzido em assédio, sondagens e propostas?
– Até agora não chegou nada para mim. Nem empresário eu tenho. Eu trabalho sozinho por enquanto. Estou no Botafogo-SP e espero cumprir meu contrato, mas se chegar alguma proposta, a gente senta e conversa para ver o que pode ser bom para as duas partes.
– Quando vê o Tupi agora na Série B é algo que mexe com você?
– Mexe sim. Além de ser o clube que me revelou, o clube da cidade, criei uma amizade muito boa com muitas pessoas que trabalham lá. São pessoas que merecem coisas boas na vida delas. Sei que muitos trabalham no Tupi desde quando eu era pequeno, com 10 anos, e que querem ter conquistas com o clube. Sempre torci para chegarem onde chegaram. O mais importante vai ser se manter, que é algo muito difícil. Passei esse exemplo no Mogi Mirim (rebaixado na lanterna da Série B desse ano). O campeonato é muito difícil. Espero que o Tupi contrate bem, monte um grupo forte e se mantenha na Série B.
– Você esteve no elenco que conquistou a Série D em 2011, até esse ano o maior feito da história do futebol do clube. Como foi sua saída do Carijó?
– Logo depois do título eu recebi uma proposta do Mogi Mirim e resolvi ir para lá. Saí sem problemas, tudo conversado direitinho. Tive uma proposta muito boa e que abriu portas para São Paulo. Hoje eu vejo que é o melhor lugar no Brasil para se jogar futebol. Foi muito bom.
– Considerando que seu contrato vai até o fim do Paulistão, veria com bons olhos uma possível volta ao Tupi para jogar a Série B?
– Cara, o futebol é uma caixinha de surpresas. A gente nunca sabe o que pode acontecer. Tenho carinho pelo Tupi, mas também tenho uma gratidão muito grande pelo Botafogo-SP, pelas pessoas que estão lá. Tem pouco tempo que estou no clube, quatro meses. Conquistei o título e fui acolhido muito bem. Na hora que saí do Mogi Mirim, quem me acolheu foi o Botafogo-SP. Eu devo esse carinho ao clube, por ter me trazido de volta para um time bom e para jogar um campeonato que todo mundo acha que tem um nível baixo, mas que é muito disputado, com bons times e jogadores. Temos que nos valorizar. Não sabemos o dia de amanhã. Melhor estar na Série D do que desempregado. Tenho muito carinho pelo Botafogo-SP e pretendo cumprir o contrato.
– Você mora aqui no Bairro Araújo desde que nasceu. Então esse campo, o Poeirão Futebol Clube, faz parte da sua história no esporte?
– Faz, sim! Desde pequenininho mesmo, 5, 6 anos de idade eu já chutava bola aqui no campinho. Antigamente era só poeira aqui, né? Não tinha esse mato. Mas o “Poeirão”, nome que o pessoal colocou, eu guardo com muito carinho. Um lugar onde pretendo viver o resto da minha vida. Aqui tenho meus amigos e minha família. É muito legal poder viver aqui.