OLHO NA COPA
A decisão de o Brasil ser a sede da Copa do Mundo de 2014 ocorreu ainda na gestão do ex-presidente Lula, quando o país celebrou a opção da Fifa, repetindo a proeza de 1950, que só não foi melhor por causa de seu desfecho. Na presença de 200 mil torcedores, a seleção nacional caiu diante do Uruguai de Giggia, por 2 a 1, em pleno Maracanã. Agora, ressurge a chance da virada, também em solo brasileiro, com o evento que começa no meio do ano.
Mas nem todos têm a ansiedade do hexa no Estádio Mário Filho, vista como homenagem aos heróis de 1950. Circula pelas redes sociais a convocação de um ato público previsto para sábado, no Parque Halfeld, em protesto contra a competição. O argumento é o mesmo de outros eventos: o país gastou demais com a Copa, enquanto rubricas estratégicas como saúde, segurança e educação carecem de investimentos.
Não há inverdade no discurso. De fato, a construção dos estádios foi além do que se esperava. O padrão Fifa soa como um escárnio, uma vez que o cotidiano mostra cenas de hospitais com pacientes em macas pelos corredores, presídios superlotados e escolas sem estrutura alguma para receber os alunos. No entanto, as ditas arenas tornaram-se espaços de acolhimento adequados para os torcedores, sendo passíveis de queixas quanto ao preço dos ingressos, que apartaram boa parte da população. É fundamental não fazer dos estádios elefantes brancos, como há esse risco em estados sem grande tradição esportiva, como Amazonas e Mato Grosso.
Como as obras são irreversíveis, as manifestações devem olhar para o futuro. Em vez de bloquear uma competição que é do gosto da maioria dos brasileiros, há outros eventos que poderiam, estes sim, entrar na agenda dos manifestantes. É fato que se trata apenas de uma estratégia, mas há o risco de o discurso não ser comprado pela própria rua, embora seja importante para os brasileiros.