Para quem jamais perdeu a fé
Um dos grandes problemas com a nostalgia é o fato de que ela faz certas coisas parecerem muito melhores do que realmente são – basta ver a quantidade de artistas dos anos 80 que vivem por aí, arrastando seus pseudo-cadáveres artísticos de one hit wonders. Mas sempre vão existir suas exceções, e é aí que entra o quinteto norte-americano Faith No More: uma das bandas mais adoradas (pelo menos no Brasil) na década de 1990, eles voltaram a tocar juntos em 2009 para encerrar um hiato de 11 anos, porém sem lançar um álbum de inéditas. Para alegria dos fãs, todavia, eis que Mike Patton (vocais), Billy Gould (baixo), Mike Bordin (bateria), John Hudson (guitarra) e Roddy Bottum (teclados) decidiram que era hora de gravar algo novo – e o resultado é “Sol Invictus”, lançado na última terça-feira em todo o mundo.
Primeiro trabalho da banda desde “Album of the year” (1997), “Sol Invictus” segue o modus operandi que parece ter sido estabelecido (conscientemente?) pelo quinteto desde “Angel dust” (1992): o de não se repetir e buscar surpreender o fã. Obviamente, muitos dos maneirismos e influências da banda continuam ali, como o rock pesado que flerta com o Black Sabbath, os teclados do rock progressivo, a excepcional cozinha de Gould e Bordin e os vocais únicos de Mike Patton, que podem passar do doce e melodioso para a insanidade total. Tudo isso somado com pitadas eventuais ou mais generosas de pop, tango, reggae e country.
Produzido por Billy Gould, o álbum tem início com a quase-vinheta “Sol Invictus”, para em seguida fazer o ouvinte ser atingido pelo peso de “Superhero”, um rock básico e direto que ganha os famosos teclados de Roddy Bottum. “Separation anxiety”, por sua vez, talvez seja a melhor conexão com o heavy metal de quatro décadas atrás, e canções como “Cone of shame” e “Sunny side up” mostram que o Faith No More ainda sabe atingir o plexo solar auditivo de seus seguidores. Mesmo com sua curta duração (cerca de 40 minutos), “Sol Invictus” ainda tem tempo de mostrar que o grupo mantém a versatilidade em sua espinha dorsal, casos da balada “From the dead” e a quase pop “Black Friday”. Pena que demoraram tanto para lançar um disco que – mesmo sem soar datado em 2015 – já faria bonito no final do último milênio.