Paraibuna enfrenta estiagem
A preocupação quanto ao abastecimento público de água em Juiz de Fora causa reflexos no Rio Paraibuna. Com menos água liberada na Represa Chapéu D’Uvas para a perenização do rio, ele está mais seco que o habitual, evidenciando mau cheiro, acúmulo elevado de lixo e formação de bolsões de areia. A coloração da água também está mais escura, por causa da menor diluição do esgoto, que chega por meio dos córregos que cortam o município. Todo este processo, observado pela reportagem da Tribuna na última quinta-feira, chama atenção de quem passa na Avenida Brasil. De acordo com a Cesama, trata-se de uma manobra operacional para preservar a represa que, desde o início do ano, tem dupla função: regular a vazão do rio e contribuir para o abastecimento público.
A função de regular a água do Rio Paraibuna tem sido sacrificada na tentativa de manter o nível de acumulação da represa estável. De acordo com o diretor técnico-operacional da Cesama, Márcio Augusto Pessoa Azevedo, nesta época do ano, deveria estar saindo do manancial cerca de oito mil litros de água por segundo para perenizar o Paraibuna. No entanto, este volume está entre mil e 1.500 litros, com possibilidade de diminuir ainda mais, chegando até a zero. A ideia é não gastar mais água do que chega na barragem por meio dos inúmeros córregos de contribuição. Além da perenização, saem atualmente cerca de 300 litros de água por segundo da represa para abastecimento público, o que representa cerca de 20% do que é necessário para não faltar água na cidade.
Outra evidência que ela está sendo poupada é que, em 4 de setembro do ano passado, quando nem era retirada água para consumo do manancial, seu nível de acumulação estava em 44,6%. Ontem o índice era maior: 52,7%. “Não sabemos como serão as coisas daqui para frente, e Chapéu D’Uvas é estratégica para nós. Existe hoje descarte muito pequeno para contribuir para a perenização, mas é insuficiente. Hoje não temos condição de descartar mais do que isso. É evidente que a retenção da água colabora para a atual situação do rio, mas precisamos priorizar o abastecimento”, informou Marcio.
Ainda segundo ele, entre outubro de 2014 e início de junho deste ano, as comportas estavam completamente fechadas. Elas foram abertas agora para minimizar os transtornos, mas existe a possibilidade de serem novamente bloqueadas. “Nossa observação é diária. Se o nível de acumulação cair demais, poderemos fechar. Também contamos com as chuvas, como as previstas este fim de semana, porque aí a melhora é instantânea.” De junho até ontem, o volume de água na represa caiu de 57% para 52,7%.
Reflexos
Em reportagem publicada pela Tribuna no início deste ano, o professor da UFJF Pedro José de Oliveira Machado, doutor em geografia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e estudioso de Chapéu D’Uvas, citava os possíveis impactos após a represa ser inserida no sistema de abastecimento. Na noite de quinta-feira, ele lembrou do assunto, dizendo que um dos efeitos é justamente a situação observada no rio. “Chapéu D’Uvas tem papel muito importante para o Paraibuna. A consequência disso é a menor diluição do esgoto, diminuindo a qualidade da água, pois reduz os níveis de oxigênio. Mas como estamos falando de abastecimento público, a manobra é compreensível e justificável.”