Política em foco
Redes sociais e previsões de resultados eleitorais
Espera-se constantemente que cientistas políticos e analistas em geral sejam capazes de prever resultados eleitorais. Mas há uma boa e uma má notícia para os que se aventuram a fazer previsões. A boa: cidadãos não têm por hábito anotar todas as previsões que encontram para compará-las com os resultados finais. A má notícia é que Philip E. Tetlock, pesquisador da Universidade da Pensilvânia, fez exatamente isso. Em um estudo de longo prazo, Tetlock constatou que resultados considerados impossíveis por cientistas políticos aconteciam em 15% dos casos – os resultados dos comentaristas de televisão seriam ainda piores.
Uma das hipóteses para a atração que as previsões causam é de que a busca de padrões e do conhecimento do futuro está conectada à nossa capacidade de sobrevivência enquanto espécie. Essa mesma capacidade permite que um bebê reconheça os traços que formam um rosto – e fazem com que vejamos faces onde elas não existem. Em resumo: a mesma habilidade que nos permite detectar padrões existentes nos faz enxergar outros em que só há ruídos aleatórios. Por isso, erra-se tanto.
Entre os padrões normalmente observados em campanhas presidenciais estão taxas de rejeição, dados demográficos e geográficos, pesquisas eleitorais, valor arrecadado pelas campanhas, resultados de corridas anteriores etc. Novos nesse cenário são os dados adquiridos na análise de redes sociais, como a adesão dos internautas aos perfis, o nível de interação, o número de pessoas falando sobre os candidatos, entre outros.
Um exemplo: após eleições mornas, uma intensa e espontânea reação dos usuários do Facebook ao acidente com o avião de Eduardo Campos se formou. Apenas nos últimos 30 dias, o perfil de Campos angariou 800 mil novas curtidas, e o de Marina, quase um milhão, crescimento de 80% e 128% respectivamente. Ambos os perfis estão no mínimo 450 mil curtidas à frente de Aécio e 700 mil curtidas à frente de Dilma. Não só isso: ambos dominaram grande parte da conversação social da semana posterior ao acidente – além, é claro, do jornalismo televisivo, impresso e on-line.
Sem ignorar o viés da internet em relação aos jovens, é preciso que os cientistas políticos e analistas brasileiros acrescentem a mineração de dados e a análise das redes sociais ao debate. É uma excelente estratégia para melhorarmos a pontaria de nossas previsões.