Região da Zona da Mata cobra de candidatos
Com de 7,5% do PIB de Minas Gerais, a Zona da Mata apresenta uma economia inferior à do Sul de Minas (12,7%) e do Triângulo Mineiro (11,1%), todas bem abaixo da Região Central (47%), onde está localizada Belo Horizonte, que reponde por quase metade da riqueza do estado. Em um cenário de retração nas últimas décadas, lideranças e entidades empresariais já traçaram um diagnóstico para alavancar a economia da região: é preciso consolidar o Aeroporto Presidente Itamar Franco como polo logístico e um maior comprometimento do futuro Governo do Estado com a região, em um recado direto para os sete nomes que disputam o pleito no próximo domingo.
“Nossos problemas estão diretamente ligados ao Governo de Minas. Para solucionarmos isso e retomarmos o crescimento, o futuro governador precisa ser convencido de que são necessárias algumas ações estruturantes e mostrar boa vontade política com a região. Não há como adiar mais esse comprometimento. Não podemos continuar como coadjuvantes”, destaca Francisco Campolina, presidente da Fiemg/Regional Zona da Mata. A entidade está em fase final da elaboração do estudo “Propostas para o desenvolvimento econômico da Zona da Mata”. Segundo Campolina, o documento será entregue ao governador eleito e servirá como diretriz para tirar a região do ostracismo.
“Temos 12 pessoas trabalhando neste documento, que irá propor ações de curto, médio e longo prazo para a microrregião de Juiz de Fora, que se estende até cidades como Muriaé e Ubá. Não é um projeto de governo, mas um plano de desenvolvimento econômico.” O estudo da Fiemg se juntará a outras movimentações de entidades e lideranças da Zona da Mata, que, recorrentemente, têm lançado mão de esforços para tentar reverter a curva descendente da economia local. Entre as ações mais recentes estão a constituição, desde 2011, da Agenda de Desenvolvimento Econômico da Zona da Mata, orquestrada por lideranças regionais dos mais variados setores, e do Plano Estratégico de Desenvolvimento Econômico Territorial, elaborado pela Universidade de Viçosa (UFV), em convênio com Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).
Guerra fiscal
Apesar de ações distintas, os três projetos apontam diretrizes semelhantes e identificam a guerra fiscal – principalmente com o Rio de Janeiro – e a falta de direcionamento mais efetivo para o Aeroporto Presidente Itamar Franco, como as carências mais imediatas. “Não é só por conta de Juiz de Fora. O aeroporto é importante para alavancar a economia de Muriaé, Leopoldina, Ubá e outras cidades. Geograficamente, ele está bem localizado, na área mais plana da região”, avalia Virgílio Furtado, secretário-executivo da Associação dos Municípios da Microrregião do Vale do Paraibuna (Ampar).
Opinião que é reforçada por Paulo Márcio de Freitas, presidente da Agência de Desenvolvimento de Viçosa (Adevi). “É o mínimo necessário para a retomada do desenvolvimento. Depois disso, temos que pensar em outros investimentos estruturais, como a criação de gasodutos, por exemplo.”
Incentivos para o vestuário
Em relação à política fiscal, setores como o vestuário também têm enfrentado uma disputa ingrata de mercado com produtos importados, principalmente da China. “Um impulso para a indústria do vestuário seria a redução da alíquota do ICMS para zero por cento. O nosso percentual de arrecadação é muito pequeno, e, tal medida, acabaria fazendo diferença nos postos criados. No estado, o setor emprega 200 mil pessoas. Em geral, uma mão de obra formada por mulheres que são arrimo de família e têm baixa escolaridade. Esse incentivo aumentaria a oferta de emprego no segmento em 10%”, sugere José Roberto Schincariol, presidente Sindicato das Indústrias do Vestuário (Sindivest-MG) em São João Nepomuceno.
Municípios devem assumir papel de ator
No mesmo sentido, Francisco Campolina defende que é preciso políticas públicas distintas para as diferentes regiões do estado. O presidente da Fiemg lembra que já teve conversas com os dois candidatos que estão na liderança da disputa pelo Governo – Fernando Pimentel (PT) e Pimenta da Veiga (PSDB) – sobre o estudo que vem sendo formatado pela entidade. Pimentel, inclusive, durante sua passagem por Juiz de Fora, visitou a sede da entidade em julho e recebeu um esboço das principais propostas e pleitos que serão entregues ao futuro chefe do Executivo estadual. “No dia 1º de janeiro, esperamos conseguir do governador eleito este compromisso com a região. Independente de quem vencer as eleições, o importante é o desenvolvimento regional. O futuro governador de Minas tem que ser convencido da necessidade dessas ações, para que este projeto não vire um livro na estante da Fiemg”, afirma o presidente da entidade.
Pequenos avanços
Apesar de o pleito uníssono de que é necessária uma maior vontade política do Governo do Estado para tirar a Zona da Mata do ostracismo econômico, o coordenador da Agenda de Desenvolvimento, Jackson Fernandes Moreira Júnior, afirma que o futuro governador precisará manter o foco e acentuar alguns avanços já conquistados pela entidade. “É um programa elaborado a partir de sugestões de lideranças e entidades da região, em que buscamos um perfil de integração regional e não o de atender este ou aquele município. Trabalhamos temas específicos. Alguns já começaram a sair do papel, como a duplicação da BR-040, que foi licitada em 2013, e a ligação entre a própria BR-040 e o aeroporto regional.”
Reflexos
Jackson destaca ainda que a agenda trouxe reflexos em outros setores como a consolidação da rede intermunicipal de urgência e emergência e o fato de uma ligação entre a BR-040 e a Via Dutra ter sido contemplada por um programa do Ministério dos Transportes. “Ainda estamos aguardando os desdobramentos.” Além de o comprometimento do Estado, o coordenador da Agenda afirma que é necessário que toda a região assuma um papel de ator social. “A agenda exige o comprometimento de toda a região, entidades sociais, empresariado e forças políticas executivas e legislativas. É uma proposta de Estado, e não um programa de Governo. Independente de quem vença, já existe um conjunto de diretrizes traçadas. O caminho está dado para que o Governo estadual possa colaborar com a Zona da Mata.”