Respeitem os moços
Um dos nomes mais interessantes de se ouvir da safra atual da música instrumental brasileira, o quinteto Dibigode, de Belo Horizonte, se apresenta nesta quarta-feira em Juiz de Fora, no Bar da Fábrica, dentro da turnê de divulgação de seu mais novo trabalho, “Garnizé”, que promove a releitura do trabalho de um dos mais importantes ícones da MPB do século XX, o cantor e compositor mineiro Ataulfo Alves. No show, o público poderá conferir as versões do grupo para clássicos como “Ai, que saudades da Amélia”, “Na cadência do samba” e “Você passa eu acho graça”, além de composições próprias. Antes de Juiz de Fora, a turnê de lançamento já passou pelos Estados Unidos, com quatro shows em Minneapolis, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, e com datas já confirmadas em Uberlândia, Salvador e São Paulo.
Dois dos integrantes do Dibigode (os outros são os guitarristas Gabriel Perpétuo e Vinícius França, além do saxofonista, pianista e flautista Guilherme Peluci), o baterista Tiago Eiras e o baixista Antônio Vinícius conversaram com a Tribuna sobre o novo projeto do quinteto, surgido após o convite do produtor Pedrinho Madeira, ainda em 2012, para participarem do projeto “Compositores BR”, em que a obra de nomes da MPB seriam reinterpretada ao vivo. Em outubro do mesmo ano, eles tocaram no Sesc Palladium, na capital mineira, e o que seria apenas um show se tornou algo maior. “A gente conhecia o básico da obra dele, os clássicos, tinha noção da relevância do Ataulfo, e começamos a pesquisar o seu trabalho. O resultado ficou tão interessante que resolvemos idealizar o projeto, incluindo o vinil exatamente com na época do Ataulfo para fazer um diálogo com o período em que ele estava em alta, quando a indústria fonográfica começou a expandir no Brasil. Como foi pensado para sair nesse formato, gravamos tudo em rolo de fita”, conta Tiago, lembrando que o álbum também será vendido em pen drive e tem download disponível no site da banda (www.dibigode.com).
Com o projeto definido, o Dibigode participou do edital de 2014 do projeto “Natura Musical” e entrou na lista de artistas aprovados. A gravação de “Garnizé” foi realizada em abril de 2014 no estúdio The Pearl, em Minneapolis, com produção de Zachary Hollander e participações da cantora mineira Dona Jandira e clarinetista americano Pat O’Keefe. “A gente tem feito essas turnês pelos Estados Unidos, e na primeira vez que gravamos lá (o EP “Live Session Midwest Tour 2013″) rolou uma identificação com esse cara que produziu o disco, que é muito atento ao processo de gravação. É um sujeito que pesquisa equipamentos, processos de gravação. E lá fora é mais barato de gravar de que aqui no Brasil. Decidimos que a gravação seria lá quando fôssemos fazer alguma turnê, tudo foi feito em uma semana”, diz o baterista. “Essa ação da Natura ajudou e muito a viabilizar o projeto, com a ajuda de nossos apoiadores”, acrescenta Antônio Vinícius.
As oito canções de “Garnizé” mostram que o quinteto soube ser reverente com a obra de Ataulfo Alves, mas sem confundir reverência com a cópia pura e simples. Do rock ao jazz, passando pela música eletrônica e outros ritmos, o Dibigode desconstruiu as composições do mestre mineiro para, a partir daí, reconstruir músicas que nada devem às originais e que são facilmente identificáveis mesmo com a nova roupagem. “Tentamos construir o repertório de uma maneira equilibrada, no sentido de fazer uma coisa para o público que acompanha nosso trabalho e para quem gosta do Ataulfo. Não queríamos fazer uma simples releitura, e sim fazer uma nova obra a partir do que ele fez. Mas sempre fica algo do original para o público reconhecer. É um trabalho bem heterogêneo”, define Tiago. “O Pedrinho, ao nos chamar para o projeto, ressaltou que queria algo diferente mesmo. A gente quer demonstrar a nossa visão do trabalho do Ataulfo, reconstruindo mas trazendo o artista de volta, tudo foi feito pensando em respeitar a obra e o compositor. Entramos em contato com a editora responsável pelo catálogo dele, com o filho do Ataulfo Alves, que pediu para mandarmos uma cópia do disco”, emenda Antônio.
Além do álbum com releituras, o Dibigode tem no currículo o seu primeiro disco com material autoral e o trabalho feito para o espetáculo “Plano”, composto para a Cia. Sesc de Dança. Para o baixista Antônio, o quinteto tem sido bafejado pela sorte por receber convites do tipo. “Em todos os projetos para os quais fomos convidados, sempre nos deram muita liberdade para criar. Na trilha sonora do ‘Plano’, por exemplo, tivemos total liberdade. Gravamos em São Sebastião das Águas Claras (distrito de Nova Lima, também conhecido por Macacos), alugamos uma casa e levamos o estúdio para lá. Ficamos cerca de um ano na casa antes de voltarmos para Belo Horizonte”, relembra o baixista. “A gente adora (esses convites), é desafiador e muito legal para a banda produzir num tempo um tanto quanto que corrido, mas com liberdade. A única coisa que a gente precisa é de tempo, agora mesmo estamos em turnê e seria preciso de um a dois meses para compor, gravar.”
DIBIGODE
Nesta quarta-feira, às 22h
Bar da Fábrica (Praça Antônio Carlos)