Saiba como proteger seu dinheiro
No cenário de recessão da economia, em que o custo de vida das famílias está cada vez mais elevado, aumentam as incertezas sobre qual é a melhor forma de investir e poupar o dinheiro. A inflação chegou a 9% e reduziu o poder de compra do consumidor. Paralelo a isso, os juros bancários para as operações com pessoas físicas atingiram o maior patamar da série histórica do Banco Central, iniciada em março de 2011, o que contribui para a elevação da inadimplência no país. Embora as expectativas sobre os preços sejam de arrefecimento nos próximos meses, a manutenção da Selic em 14,25% em setembro mostra que os brasileiros ainda enfrentarão juros altos, retração de investimentos e aumento do desemprego. A situação já é alarmante: só em Juiz de Fora, houve perda de 2.154 postos de trabalho nos primeiros sete meses do ano.
Para quem passou os últimos tempos economizando pensando em concretizar algum sonho material, como aquisição da casa própria ou realização de uma viagem ao exterior, restam muitas dúvidas. As preocupações também são muitas para quem pretende fazer o dinheiro render por meio de aplicações. A caderneta de poupança, forma mais tradicional de investimento entre os brasileiros, deixou de ser uma alternativa interessante. Com o rendimento atrelado a Taxa Selic, a remuneração se tornou inferior a outros tipos de aplicação também conservadores, como os fundos de renda fixa, por exemplo. Especialistas orientam sobre quais os cuidados e a melhor forma de lidar com o dinheiro neste momento, e avaliam o que esperar do cenário econômico nos próximos meses (ver quadro).
O aposentado José Vianelli, 69 anos, planejou que em 2015 trocaria de carro. Para isto, ele economizou, mas a crise gerou incerteza sobre a compra. “Já passou mais da metade do ano e ainda não comprei. Estou em dúvida se realmente é um bom momento. Também não sei qual é a melhor opção dentre as tantas facilidades que estão sendo oferecidas pelo mercado.”
A dúvida do aposentado é de extrema relevância, segundo o coordenador do curso de Economia da Faculdade Mackenzie Rio, Marcelo Anache. Ele esclarece que “neste momento, de juros altos e incerteza política nas decisões governamentais, o consumidor deve evitar endividamentos de longo prazo”. A mesma orientação é dada pelo diretor da Associação Brasileira de Educação Financeira (Abefin), Sandro Borges, “se tiver realmente que comprar um carro agora, o ideal é ter um valor de entrada para parcelar, no máximo, em dois anos.” Ele alerta sobre os gastos com seguro, manutenção, combustível e impostos após a compra.
Comprador precisa ficar de olho na cotação diária do dólar
Outra consequência da crise tem sido a alta do dólar. Ontem, dia 4, a moeda chegou a R$ 3,84, a maior cotação desde 29 de outubro de 2002. A situação tem preocupado o redator Rafael Simão, 26 anos. Com viagem em família aos Estados Unidos marcada para dezembro, ele conta que não tem como voltar atrás. “Todos nós agendamos férias juntos, economizamos dinheiro e já reservamos um apartamento em Nova Iorque para as festas de fim de ano. Vamos no dia 10 e voltamos em 2 de janeiro.” Até o momento, ele não comprou todo o dólar que irá precisar. “Monitoro o câmbio todos os dias. Comprei uma parte quando estava R$ 3,40, mas achei caro, então, decidi esperar. Estou confiante de que o valor ainda pode reduzir.”
Na avaliação dos especialistas, quem já organizou uma viagem ao exterior deve fazê-la, mas considerando gastar menos. Já quem ainda planeja, o mais aconselhável é não fechar neste momento. “O dólar é um ativo de bastante sensibilidade aos rumores da nossa economia. Portanto, a tendência é grande oscilação neste período”, explica Anache. A orientação é fazer o que Rafael tem feito: monitoramento diário da cotação da moeda americana.
Por conta da crise, o sonho da casa própria foi adiado por um casal de noivos que preferiu não se identificar. Com casamento marcado para o próximo ano, eles vão continuar morando no apartamento alugado em que vivem. “Queríamos muito oficializar a nossa união, então decidimos que faríamos tudo aos pouquinhos. Planejamos a cerimônia e a recepção, que é o que podemos fazer nesse momento. Mais para frente, investiremos na compra da casa própria”, diz o noivo.
Como as últimas medidas do Governo foram de elevação no custo do crédito imobiliário seguido de redução na margem do financiamento, a decisão do casal é considerada acertada pelos especialistas.”O mercado de imóveis ainda está com preços elevados. Quem vai financiar, se puder esperar por quatro ou cinco anos, deve ir juntando dinheiro para dar uma boa entrada”, analisa Borges. Ele destaca que para quem tem o valor para pagar à vista, este pode ser o momento de negociar preços.
Projeção
O momento pede cautela do consumidor, conforme os especialistas. A economia entrou em recessão, logo, o ideal é acompanhar o orçamento por meio de tabela que mostre as despesas mensais da família e adotar hábitos que evitem o desperdício de água, energia e alimentos.