Saldo de 347 vagas em dez anos no setor têxtil
A indústria têxtil já foi o setor mais representativo da economia juiz-forana. No início do século XX, concentrava mais de 60% da mão-de-obra local, rendendo à cidade a alcunha de Manchester Mineira. Hoje, no entanto, o setor encontra-se em declínio, sobretudo devido à invasão dos produtos chineses. Segundo levantamento feito pela Tribuna junto ao Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho em Emprego (MTE), a indústria têxtil e do vestuário e artefatos de tecido foi o subsetor da economia local que menos cresceu na última década, na comparação com os estoque de empregos anterior a 2000. Em uma década, o saldo de empregos registrou alta de 347 vagas (ver quadro). Nos sete primeiros meses deste ano, apresentou saldo negativo de 31 vagas, contra 372 no mesmo período do ano anterior.
Segundo a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Têxteis de Juiz de Fora, Fátima Guerra, desde 1995 a cidade perdeu mais de quatro mil postos de trabalho, com o fechamento de grandes empresas, como malharia Master, Ferreira Guimarães, Magnatex, Viúva Simão, São Vicente, entre outras.
Como consequência, vários trabalhadores foram obrigados a mudar de profissão. A maior parte foi para o setor de conservação e limpeza e muitas foram trabalhar como domésticas, em casas de família. Outros foram para a indústria metalúrgica ou fizeram cursos para trabalhar como auxiliar de enfermagem. Segundo Fátima, isso explica a carência de profissionais qualificados na função hoje. Poucos se qualificam para uma profissão que não sabem se terão outras oportunidades pela frente. Além disso, o salário está muito defasado, e as empresas não oferecem benefícios além do piso (R$ 607).
Segundo o economista da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Alexandre de Brito Santos, apesar de não haver queda no saldo de empregos na década, o crescimento de 6,33% da indústria têxtil em Juiz de Fora, em relação ao estoque de vagas anterior a 2000, acende o alerta vermelho do setor. Nesses anos tivemos um crescimento médio de 0,5% no saldo de empregos, o que é preocupante. Segundo ele, o principal vilão na decadência do setor não só em Juiz de Fora, mas em todo o Brasil, é a concorrência com os produtos chineses, após o período de abertura do mercado brasileiro, nos anos 90. Antes, o dólar não favorecia esse tipo de transação, mas hoje as importações cresceram em ritmo muito acelerado, dificultando a concorrência das mercadorias brasileiras com as chinesas.
Fiemg quer investigação
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), no país, de janeiro a agosto deste ano, o setor têxtil e de confecção registrou déficit de US$ 3,06 bilhões na balança comercial. As importações do setor cresceram 39,8% no período, somando US$ 4,42 bilhões. Os produtos chineses são os principais responsáveis pela alta, correspondendo a 37% do total.
O economista Alexandre Santos adianta que a Fiemg está preparando atualmente três solicitações de investigação para serem encaminhadas ao Departamento de Defesa Comercial (Decom). O departamento é a autoridade brasileira para fins das investigações que autorizam a aplicação de medidas de defesa comercial e está ligado à Secretaria de Comércio Exterior (Secex), no MDIC.
Segundo o presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Juiz de Fora (Sindivest-JF), Vandir Domingos da Silva, o custo da mão-de-obra em países orientais e a qualidade do material tornam a concorrência com os produtos brasileiros desleal. As matérias primas, a capacidade tecnológica e a mão de obra barata fazem com que a competição seja desleal. Porém, temos conseguido, aos poucos, contornar essa situação, produzindo peças de altíssima qualidade.
Ainda segundo Domingos, o fator moda também tem dado uma sobrevida ao setor, já que os chineses têm maior dificuldade em antecipar as tendências. O setor tem investido e as facilidades para compras de máquinas modernizaram nosso parque industrial. Mas isso não é suficiente para nos tornar competitivos em termos de preço.
Para o diretor da Labirinto Jeans, Antônio Nogueira de Lucena, há produtos que enfrentam uma concorrência maior. Os principais afetados são as cuecas e meias, devido à matéria prima e a capacidade de produção, ressalta o empresário.